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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Contos de Maria Joaquina

CAPITULO 1

Me chamo Maria Joaquina, quero contar a minha história, porém nunca soube como começar. Resolvi começar do começo. Minha infância. Minhas vagas lembranças: O doce sabor do bolo de laranja, de fruta colhida no "pé"; os dribles; O contato com a natureza e suas peripécias; a falta de malícia; O encanto a cada nova descoberta. Mentes ansiosas buscando desvendar os mistérios do Mundo. Doces e amargas lembranças, cujo as cicatrizes carrego na pele e na alma.
Nasci no interior do Rio Grande do Sul. Na zona rural de uma cidadezinha provinciana com um nome prosaico: Cristal. Os caros leitores estarão se perguntando se tal cidade está no mapa? Sim. Situa-se entre Camaquã e São Lourenço do Sul. Piorou? Acredito que todos já ouviram falar em Pelotas e sua alcunha, capital nacional Gay, fica há uns sessenta quilômetros de lá.
A chácara em que nasci, localiza-se há uns trinta quilômetros do centro da cidade de Cristal, seguindo em estrada de chão batido. `A entrada, uma porteira com dois eucaliptos gigantes de cada lado, de onde era possível avistar a enorme casa de madeira rústica, em tom rosa desbotado pelas águas das chuvas, com portas e janelas em verde fosco. Ao lado direito da casa, um arvoredo, e logo abaixo um açude com a água refletindo o azul do céu. A esquerda, um terreiro, onde as galinhas costumavam ciscar e logo atrás duas estufas de secagem de fumo ( para os leigos parecia mais dois castelos medievais de tijolos à vista). Logo abaixo do terreiro, outro arvoredo, seguido de uma imensidão de campo florido. A mangueira ou curral geminada às estufas.
O cenário era esplendoroso. Ultrapassando a porteira, seguindo a estradinha ,a qual, levava até a casa, cerca de quinhentos metros, costeava um vasto tapete verde que daria de encontro a outra estradinha com o mesmo destino e outra porteira, " a porteira de baixo", esta com acácias postas propositalmente na mesma posição dos eucaliptos. Na chegada uma aroeira, cuja sombra servira para reunir a família para rodas de chimarrão, prosas e "causos".
Lembro de cada detalhe da velha casa. Quando nasci ela deveria ter uns vinte anos de existência. E se tratando de madeira simplesmente pintada com cal e uma mistura para deixá-la com o tom rosa, refiro-me a um longo período de tempo. O que lembro com maior nitidez são as frestas nas paredes e os buracos no assoalho ( estes serviam de ninhos para as aranhas). Quanto as frestas era possível ver o brilho da lua cheia, as estrelas na escuridão da noite, os primeiros raios de Sol. Dias de chuva? A água entrava pelas frestas e pelos buracos das telhas e ficava a escorrer pelo chão, ou caiam em baldes postos intencionalmente, aumentando o tilitar dos pingos. O tilintar se aproximava de nossas camas com tamanha nitidez, ecoando e ecoando. Eu não me importava. Sua música suavizava minha alma. Diminuía minhas aflições. Minha mente entrava no compasso ritmado do tilintar causando uma enorme sensação de euforia. Não lembro exatamente o que pensava. E se pensava. Lembro somente da invasão de felicidade que irradiava todo o meu ser, levando-me ao mais profundo sono.
No inverno aquelas frestas tornavam-se um suplício, o frio cortante. O vento minuano dos pampas gelava desde a orelha até as pontinhas dos dedos dos pés. Esse era um belo pretexto para o meu recôndito prazer: Refugiar-me embaixo do poncho, aconchegada nos braços de meu pai. O braseiro aquecendo nossos pés; sem esquecer do Rex, que juntava-se a nós e ao calor das brasas ainda incandescentes. Ah, o Rex era o nosso vira-latas.
Nesses dias gelados, também costumava ficar sentadinha no balaio de bambu, em frente ao fogão à lenha alimentando-lhes as chamas com gravetos, enquanto minha mãe fazia a "boia", canjiquinha ,broa de milho com banha de porco e ralhava conosco, eu e meus irmãos, que de vez em sempre nos atracávamos ao tapas;como eu era a caçula, sempre ficava em desvantagem. Já ia esquecendo de falar do Godofredo e da Joana, meus dois irmãos que participaram diretamente da minha infância, dois e quatro anos respectivamente mais velhos do que eu. Os outros cinco irmãos haviam partido para a "cidade grande", Novo Hamburgo, afim de estudar e ganhar a vida.
Falávamos da casa e das frestas. Havia um sótão onde eu e Joana nos escondíamos para não ajudar nas tarefas cotidianas do lugar. Apesar de nossa ajuda fazer diferença nenhuma. Ao contrário, atrapalhávamos os pobres peões. Fazíamos tudo errado. Eram tarefas simples ,tais como alcançar folhas de fumo para que fossem amarradas nos bambus, dar milho para os pintinhos (normalmente morriam de intoxicação alimentar rsrsrr), no entanto, totalmente entediantes para duas crianças. O Senhor Acilon, nosso pai, parecia um coronel, achava que tínhamos que ter obrigações. Ele ficou cego depois de um derrame por causa da maldita diabetes, aos quarenta e nove anos. Enxergava apenas vultos. Isso o deixava muito revoltado. Andava tropeçando, mas não perdia seu senso de independência, continuava consertando cercas, tosando os bichos, mantinha-se sempre ocupado, talvez para não pensar no problema. Admirava-o por sua força. Ele não admitia que sentissem pena dele. O seu revólver acompanhava-o por suas andanças a cavalo e ai de quem o contrariasse. Nunca desferiu um tiro com o tal revólver mas impunha "respeito". Quando ele precisava viajar para a cidade, Camaquã ou Canguçu, eu era a sua bengala. Colocava a mão no meu pescoço e saiamos às compras. A memória fotográfica do pai guiava-nos para onde quiséssemos. Ninguém acreditava. - onde estamos? Dizia ele. Eu respondia que estávamos em frente a tal lugar e ele indicava: -Próxima rua a esquerda. Eu havia sido alfabetizada a pouco tempo, tinha sete anos de idade apenas, mas grande utilidade para ler as placas indicativas e nome de lojas e avisar sobre buracos e obstáculos na calçada. Se eu o deixasse tropeçar, tapa na orelha. Como vivia no mundo da lua, frequentemente acontecia. Ficava observando os carros, as belas casas, encantada. Gente bem arrumada. Sonhando acordada em um dia morar num lugar desses. Acordava com uma bifa.
O plantio de fumo era o que nos mantinha e garantia um bom dinheiro no final de ano, o qual, nosso pai empregava em vacas,cavalos e outros animais, pagava a venda do Tadeu onde comprávamos fiado o ano inteiro. Também plantávamos batata, mandioca, feijão e verduras somente para o nosso consumo. Todo esse relato para dizer que ficávamos mocadas no sótão durante horas e horas e nosso pai percorrendo terreiro, galinheiro, potreiro, chiqueiro, furioso a nossa procura. Eram trinta e quatro hectares a serem vasculhas. Estávamos acima de suas cabeças e um passo em falso resultaria no desabamento do forro frágil. Ficávamos lá, brincando com os cascos de tatu ( o que restara dos pobres animais abatidos em caças esportivas). A "tunda" ou surra era inevitável no momento em que abandonávamos nosso esconderijo e deparávamo-nos com o carrancudo. Os vergões permaneciam em nossas pernas e braços, ou onde quer que tenham sido desferidos os golpes repressores aos direitos às delicias da infância por dias a fio. Desaparecidas as marcas, saiamos a procura de novos esconderijos, afim de aproveitar o tempo que jamais voltaria. Tínhamos sede de viver, brincar, como se inconscientemente soubéssemos, a infância, melhor fase de nossas vidas. As crianças são corajosas, instintivas. Vivem cada momento intensamente, sem medo. Depois somos escravizados pela RAZÃO da "maturidade". Subíamos nos pés de goiabeira consumindo vorazmente seus suculentos frutos oferecidos generosamente pela Mãe-Natureza. Percorríamos as sangas(pequenos córregos)com potinhos afim de catar caranguejos, de pés descalços com a água gelada e transparente a acariciá-los. Caminhávamos por ela até encontramos a sua nascente. Erámos indiferentes a todos os perigos, cobras, pedras cheias de limo, os galhos secos, espinhos (dai vem as cicatrizes). Dizem que toda criança tem um anjo da guarda protegendo-a. Acredito que dávamos muito trabalho para os nossos. Ao detectar nossa ausência novamente, meu pai não perdoava e mandava o meu irmão Godofredo, "seus olhos", nos procurar e ele era esperto o suficiente para nos encontrar pois conhecia as nossas artimanhas e esconderijos. Criado segundo o machismo patriarca acreditava na autoridade através da violência, orgulhando-se em bater-nos impunemente.
No outro dia, ou no outro encontrávamos novas maneiras de tripudiá-los, indiferentes as punições provenientes.
Tinhamos duas éguas, a cabana e a girafa, não perguntem porque uma égua se chamava girafa, acho que porque ela era grandona ,filha da cabana, nasceu num dia de inverno, logo acima da taipa do açude, potra de patas longas, esguia. A Joana fora presenteada com o filhote. A cabana era égua de corrida, os menos experientes não podiam se aventurar a montá-la pois a queda era certa e o tombo feio. Já a girafa, égua de galope, porte aristocrático. Eu preferia montar a cabana, como eu era mirradinha, grudava-me nas crinas dela e saia em disparada, rumo aos campos. A brisa tocando a minha face, o ar puro com cheiro de eucalipto e flor de acácia, o amarelo exuberante dos malmequeres diante dos olhos. Sensação de liberdade. Inesquecível. Sensação tamanha só era sentida nos mergulhos no açude. Aquela água esverdeada e barrenta, cheia de sangue-sugas, exercia um fascínio sobre nós. Passávamos horas e horas lá dentro até a pele enrugar. Nadar, nadar, nadar, boiar...lembro da sensação de flutuar sobre a água sentindo o sol dourar a pele. Era eu e o mundo e o mundo era só meu. A canção dos pássaros tornava-se algo indescritível. Sentia a pulsação do Mundo, como se pudesse sentir o pulsar do coração de Deus. Quando saia da água, às vezes, ficava alguma sanguessuga grudada em mim, corria desesperada rumo a casa gritando socorro, minha mãe ria e colocava sal nas malvadas que derretiam. ufa!!! Como pode os bichinhos derreterem? Ficava com pena delas por alguns instantes mas o alívio era maior.
Todos os finais de tarde localizávamos os terneiros e conduzíamos eles à mangueira afim de mantê-los presos até o outro dia, e assim impedi-los de mamar para sobrar algum leite no ubre das vacas para o nosso café da manhã. Todos os dias, maquinalmente às sete horas da manhã, Dona Jandira, minha mãe, ordenhava as vacas. Nossa tarefa algumas vezes tornava-se árdua quando os bezerrinhos se embrenhavam nos banhados, arregaçávamos as calças e seguíamos em frente. Diante das adversidades tirávamos proveito, atacávamos os araçás e amoras que encontrávamos pela frente. E havia muitas árvores frutíferas por aquelas bandas alagadiças. A missão terneiros, transformava-se em algo prazeroso, no entanto, durava o triplo do tempo a ser concluída. Chegávamos em casa ao cair da noite. Imundas.
O cair da noite, como posso descrevê-lo? O céu avermelhado colorindo o horizonte enquanto o Rei Sol fazia a sua despedida majestosa atrás das montanhas. A penumbra rejubilava-se lentamente diante dos meus olhos, o crepúsculo da noite e de repente o breu, nítido somente as estrelas prostradas no céu como brasas incandescentes. O silêncio do lugar quebrava-se com o coaxar dos sapos. Uma música melodiosa, quase triste, ritmada com os sons emitidos pelos grilos. Confesso que sentia muito medo. A noite ressuscitava todos os mitos: mula-sem-cabeça, saci-Pererê, negrinho do pastoreio. Eles assombravam-me. Via-os por toda a parte. Eu não ousava por os pés na rua durante a noite.
Ao retornarmos de nossa missão terneiros, gosto de chamá-la assim, encontrávamos nossa mãe cortando lenha e esbravejando contra os animais que ousavam aproximar-se. Cada machadada desferida com fúria. Gritos mudos. Cada galho partido, cada golpe, um desabafo. Ela sofria calada. Sua submissão reprimida vinha à tona e naquele momento, extravasada. E num ateísmo explícito blasfêmias proferidas. Trabalhava desde o raiar do dia até a hora de todos desfrutarem o mais profundo sono. Servia a todos. Não obtinha qualquer reconhecimento. Guerreira, mulher guerreira!!!
E nesse paliativo melancólico coloco a singularidade do sofrimento com a pluralidade da beleza num paradoxo inexorável.

capitulo 2
Finais de semana

Todos os sábados minha mãe escovava o assoalho de madeira, ariava o fogão, varria os terreiros, tirava os estercos das vacas das estufas. Era o prenúncio de visitas. Depois da faxina, ela se punha a fazer bolos de laranja, cucas. Ah, o bolo de laranja, fico com água na boca só de lembrar o sabor.
A beleza do lugar tornava-se maior ainda, o cheiro das guloseimas, de terra molhada do terreiro recém-revirado misturado com a expectativa de novas companhias e novidades da cidade.
Lembro-me nitidamente da explosão de sentimentos do meu pequeno ser. Minha mãe também ficava alegre e cantalorante. Eu contava os minutos a espera do ônibus das dezessete horas, isso porque a condução só passava duas vezes ao dia: às oito da manhã e às cinco da tarde.
Ouvíamos o ronco do motor do veículo e corríamos em direção à porteira, se parasse: visitas ou alguma correspondência (Não havia telefone, nem correios por aquelas bandas). Se não, frustração.
Quando alguém apeava do ônibus, corríamos em direção do indivíduo, afim de uma recepção mais que afetuosa, sem ao menos saber quem era a criatura. A distância tornava impossível a distinção de sua fisionomia. Na maioria das vezes, o visitante era um de nossos irmãos que viera passar o final de semana conosco ou tio ou primo com o mesmo intuito.
Certa vez, frustramo-nos ao correr na direção do visitante. Eis aqui uma bela estória ou melhor, história pois aconteceu de fato: O indivíduo apeou do ônibus e lá foram as pirralhas ao seu encontro de braços abertos, prontas para pular no pescoço do suposto parente para dar-lhe um abraço mais que efusivo. Tamanha decepção ao deparamo-nos com um alemão de um metro e noventa de altura, pescoço vermelho, orelhas e nariz exuberantes. Era o namorado da minha irmã Sara, uma figura cuja feiura saltava aos olhos, mas este, com certeza fora o amor de sua vida. Dizem que gostos, cores e amores não se discutem. O enamorado vinha em missão de paz e amor, literalmente, pedir o consentimento para noivar com sua amada. Cumprimentamos o desconhecido e voltamos tristes para casa.
Quando o alemão apresentou-se como namorado da minha irmã, meu pai pediu para falar-lhe em particular, na sala de estar, com as portas fechadas, e partiu para o interrogatório:
-Tu é filho de quem?
-Sou filho do Senhor Osvaldo Rotishild que mora ao lado da venda do Senhor Darci Becker. Respondeu enfaticamente, cheio de orgulho.
-Conheço teu pai faz alguns anos, um homi muito trabalhador, pena que é alemão. Caçoou o velho, mas vamos direto ao ponto:
-Quais são tuas intenções com minha "fia"?
-Quero conhecê-la melhor, visitá-la, para então daqui um ano casarmo-nos? Respondeu o pretendente meio temeroso
-óia, com minha fia ninguém fica de trololô, muito menos um alemão fio da puta, tu têm dois meses pra casar.
-Dois meses é muito pouco tempo, ainda não estou preparado.
-Ninguém fica bulinando minha fia pra depois deixa dela e fica mal falada, ou isso ou nada.
-Dois meses é muito pouco tempo, não consigo arranjar tudo em tão pouco tempo. E o alemão começou a ficar mais vermelho do que já era.
-Então te some daqui seu alemão sem vergonha. Dito isso sacou o revólver vinte e dois.
O alemão mais que de pronto, abriu a porta da frente da casa e saiu em disparada e não olhou para trás até chegar à estrada. Não preciso dizer que nunca mais voltou.
Em alguns sábados ninguém aparecia, conformávamos em passar os domingos à tarde na casa de alguns vizinhos mais próximos, sendo que o mais próximo ficava há uns três quilômetros de distância da minha casa. Essa era a Dona Cleni, a mais próxima e a minha vizinha predileta. Uma Senhora negra, muito obesa, um metro e meio de altura e pesando uns noventa quilos, vestia-se com saias ou vestidos abaixo dos joelhos pois pertencia a Igreja Evangélica, Deixava a mostra apenas suas veias protuberantes em suas grossas panturrilhas. Possuía uma sabedoria extrema, sua simplicidade exalava bondade e amor. Contava seus mitos ou histórias de velhos conhecidos com tanta ternura que prendia minha atenção.
Seu rancho era humilde, mas sempre cheio de pessoas queridas ao redor do fogão ouvindo suas histórias. Um ranchinho de sapê e pau-a-pique rebocado com barro, piso de chão batido, portas de madeira com tramela ( tranca de madeira). Luz elétrica era privilégio de poucos por aquelas redondezas. A luz de lampião exalava o cheiro de querosene queimado em sua fumaça negra, a qual se unia numa dança ritmada com a fumaça do fogão à lenha; o fogão feito de tijolos ficava no cantinho da cozinha, ao lado as tinas de barro que serviam para armazenar a água esverdeada trazidas em baldes da cacimba ( reservatório de água numa nascente de água)no ombro das negrinhas. Na sala de visitas havia dois grandes bancos de madeira e uma mesinha no canto com o radinho de pilha, logo acima um calendário com a imagem de Jesus Cristo, ao lado uma porta, pela qual podíamos ver um dos quartos, lá uma enorme cama de madeira com um colchão de palhas de milho, forrado com uma colcha de retalhos coloridos, logo ao lado um enorme edredom feito de plumas de ganso cuidadosamente dobrado. Também era possível avistar o pinico embaixo da cama. Banheiro? Era a moita mais próxima.
Pelo que descrevo os caros leitores possivelmente estão a imaginar um lugar decadente, tépido e deprimente. Não era. Havia harmonia naquele lar. Aconchego e cheiro de lavanda. As pessoas que lá viviam, Dona Cleni, Seu Genor e as três filhas: Cláudia, Claudete e Gracinha eram felizes. E não venham questionar o conceito de felicidade que aqui aplico. Digo uma felicidade pura de valores morais e não materiais. Riam de tudo e achavam graça de si mesmas. A Gracinha era a mais risonha de todas e riamos apenas de sua risada contagiante. Plantavam o que comiam e alguns desses alimentos trocavam por outros que não cultivavam com seus vizinhos. Tinham uma mesa sempre farta. Esperavam a vida passar sem angústias, sem anseios. Durante o dia trabalhavam na lavoura, a tardinha alimentavam os animais. Missão cumprida. Tomavam seus banhos na sanga ( pequeno córrego)ou de bacia mesmo, quando estava muito frio. Reuniam-se ao redor do fogão. Tomavam seu chimarrão. Jantavam. Dormiam. No outro dia tudo recomeçava, sem pressa, sem trânsito. Os sábados eram reservados as faxinas, as mulheres limpavam a casa, Seu Genor limpava o terreiro. Os domingos eram sagrados, iam ao culto pela manhã agradecer por suas bênçãos da semana: Saúde e uma mesa farta. Á tarde aguardavam suas visitas com uma mesa farta de guloseimas: Paçoca de amendoim, aipim frito, bolinhos de chuva e café preto. Eu, Joana e a minha mãe apreciávamos muito a companhia deles, as guloseimas e as altas gargalhadas da Gracinha. Meu pai não acompanhava-nos, odiava os negros.



AMARAL,Janice

Um comentário:

  1. Por favor, não pare, faltam ainda mais de 20 anos de continuação! Não pare com a história!

    A maneira que escreveu, diferentemente dos outros textos, chamou muito minha intenção, pois me lembrou romances do Hemingway com seus detalhes tão minuciosos e interessantes.
    Viajei até Cristal e cheguei a ver a pequena Maria Joaquina no seus dias de menina.

    Parabéns!!

    Leo

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Sentimentos sao para serem expostos