Páginas

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ressaca

Minha cabeça dói. Sinto naúseas. Bem-feito!!!Quem mandou encher a cara?
Pinguça!!! Pau d´gua!!!
Agora falando sério: Por que bebemos se no outro dia ficamos com uma enorme ressaca? Um prazer momentâneo? Uma satisfação fugaz?Uma eufôria?
Sei lá!!! Só sei que ficamos mais descontraidos,ás vezes, até demais.
Ficamos mais sociáveis...Algums muito sociáveis, abraçam, beijam todos ao seu redor. Desconhecidos tornam-se os "melhores amigos de infância". No outro dia, nem lembram o que foi dito ou feito. Existe, lógico, aminésia por conveniência e junto dela uma enorme ressaca moral. E ressaca moral é a pior de todas as ressacas, junto dela vêm vergonha,arrependimento e frustração. Tudo isso porque a bebida altera o seu estado de consciência e você acaba fazendo coisas que não faria se estivesse sóbrio. Só para constar, não fiz nada ontem que me causasse ressaca moral hoje, só essa ressaca nauseante, mas já tive ressaca moral sim. E essa não é boa. Aliás nenhuma delas.
Bebida moderada faz bem, relaxa. Enfiar o pé na jaca, não.

sábado, 24 de abril de 2010

Livre Arbítrio

Como é complicado esse tal livre arbítrio.
Dois caminhos, uma escolha...
A escolha só cabe a ti...
Se peço conselho: - "A decisão é tua"!!!
ouço como resposta.
Poxa, não poderei responsabilizar ninguém se eu fizer a escolha errada?
Vida difícil, hein!!!rsrsrrrsrs
Se fosse diferente aposto que iriamos reclamar.
E não adianta ir em cartomante, guru ou vidente, eles dirão:
- " Tu terás dois caminhos a seguir, mas deve escolher um".
Grande ajuda!!! Lá vai eu com meus botões, talvez esses possam me ajudar, sem se preocuparem se estão interferindo no meu livre arbítrio. Resolvi estabelecer um diálogo com o botão da minha calça jeans azul, aliás era o único a vista:
EU - Sr.Botão ou Mr.Button,acho que Mr.Button combina mais contigo, afinal esse jeans fala inglês? Isso não importa, preciso da tua ajuda. Se eu escolher esse caminho A terei de abrir mão de $, porém terei como recompensa @ # %, no caminho b eu terei $$ @ & e agora?
BOTÃO -(Silêncio)
EU - Hei faz sinal com a cabeça, qualquer coisa...
BOTÃO -(nada)
EU -Ok,vamos estabelecer contato, silêncio opção B, balançar a cabeça opcão A.
BOTÃO -(mudo e imóvel)
EU - Está bem, encaro esse silêncio como um consentimento para a opção b que é mais vantajosa.Obrigada!!! tu és muito inteligente.
Ufa, agora já tenho a resposta, e posso colocar a culpa no meu botão da calça jeans azul se der errado, se der certo o mérito é todo meu.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tatuagem

Mão firme
Máquina trepidante
"carne dilacerada"
arte esculpida na pele
agulha penetrando
pigmentando
Dor
cor
alegria
um traço vira forma
uma forma vira o êxtase de algo fascinante
Vocação
Dom de eternizar sua obra
Abençoado tatuador
que tatua sem parar
tatuar, tatuar
expressar talvez aquilo que não foi dito
um protesto
uma paixão
Algo tão peculiar
uma forma de ser diferente
como escolher a palavra exata
que se transforma em expressão...

Homenagem a Atrito Luis Tattoo

AMARAL,Janice

domingo, 18 de abril de 2010

Solidão acompanhada...

Acredito que a pior solidão seja aquela que você tem um namorado ou marido,amigos, família, mas mesmo assim se sente totalmente sozinho no Mundo.
Digo isso porque não raro, me sinto assim. Não culpo as pessoas que me cercam. Entendo. Todos têm seus problemas e ninguém quer ouvir os problemas alheios. Enfadonho ouvir lamúrias. Também detesto me lamuriar. No entanto, desabafar alivia. Chorar limpa, purifica.
Consideramos quem chora fraco, quem reclama perdedor e chato.
Queremos pessoas alegres, divertidas, de bem com a vida ao nosso redor. Quantas vezes mascaramos nossos sentimentos, escondemos nossos problemas para nos enquadrarmos num determinado grupo? Uhuuuu, sou feliz, bem sucedido! Até nós acreditamos nisso. Não que não possamos ser tudo isso, porém, somos humanos, temos nossos momentos de descrença, tristeza e insatisfação. Não quero dizer que a vida é uma "m", quero dizer apenas que nos permitamos ficar insatisfeitos e reclamar.
Num Mundo onde virou moda "O SEGREDO", o pensar positivo, o ser otimista, nos transformamos em seres vazios,superficiais, incapazes de demonstrar nossos sentimentos reais.
E nesse mundo de aparências felizes o status social é algo a ser consumido, cito Hannah Arendt:
“A admiração pública é também algo que pode ser usado e consumido, e o status como diríamos hoje satisfaz uma necessidade como o alimento satisfaz a outra: a admiração pública é consumida pela vaidade individual da mesma forma que o alimento é consumido pela fome.” Arendt, HANNAH.12 ediçao. A Condição Humana pg 69
Não há espaço para fraquezas, somos seres "normalizados", condicionados a agir todos da mesma maneira para não sermos excluídos de um determinado grupo, seja social ou familiar.
Por outro lado, quando ficamos sozinhos com nosso travesseiro não há como fugir dessa solidão. Não importa se há alguém ao nosso lado. o encontro com nossa consciência é inevitável. Talvez alguma lágrima caia. No outro dia, sufocamos toda essa insatisfação e seguimos em frente.
Num livro do Paulo Coelho, não lembro o nome, ele fala sobre relacionamentos e diz que, geralmente, duas pessoas caminham na mesma direção, só que separados por um trilho, um trilho de trem, que os torna inacessíveis. Gosto de dizer que cada ser humano é uma ilha.
Fechamo-nos em nosso mundinho "altista". Reinventamos um novo Mundo. Um mundo "perfeito". Essa perfeição dói, corrói a alma.
Desculpem o desabafo.
ufa!!!Passou...
Obrigada...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Átomos

Sinto-me um ponto em meio a multidão;
Ao observar imensidão do mar;
Às incontáveis estrelas;
o horizonte sem fim...
A população que se multiplica;
sinto-me tão pequena e insignificante;
Tantos lugares para conhecer;
culturas...
Animais...
plantas, as mais variadas...
Tantos mistérios a desvendar;
E nessa estranha conclusão:
Penso;
vacilo;
Questiono:
onde foi parar o meu ego agora?
Como ficou assim tão pequeno e assustado?
Parece mais um átomo atordoado...
"Nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é hipocrisia."
Schopenhauer

terça-feira, 13 de abril de 2010

Ele não está tão afim assim

Ontem assisti um filme muito interessante: "Ele não está tão afim assim";
Uma visão masculina ácida sobre as fantasias amorosas das mulheres. São várias histórias paralelas com objetivo de mostrar as desculpas que nós mulheres damos aos descasos amorosos. Uma das personagens é solteira, vive marcando encontros que acabam não desenrolando um românce, após esses encontros frustrados ela passa dias a fio olhando o celular à espera de uma ligação do suposto pretendente, inventando várias desculpas por isso não ter acontecido, tais como: "Ele perdeu o meu número"; "Ele está dando um tempo para não parecer pegajoso","Ele está esperando que eu ligue". A partir dai, ela passa a perseguir o pretendente, deixando inúmeros recados na secretária eletrônica e até forçando encontros "casuais". Num desses supostos "encontros casuais" ela não encontra o pretendente, porém faz amizade com o gerente do bar, um cético amoroso, que lhe dá a letra: "Se o cara não te ligou é porque ele não está tão afim assim, se estivesse ele o teria feito". Ela passa a ter uma nova percepção das coisas e eu também fiz uma reflexão: Será que nós mulheres, por querermos encontrar alguém especial, estamos dando o devido valor a nós mesmas? Às vezes, mostramo-nos tão desesperadas por um romance que eles correm apavorados. E essa história de que homem está escasso no mercado é a maior auto-depreciação que uma mulher pode fazer, porque parece, ao menos para mim, de que qualquer coisa serve e que o primeiro que aparecer você irá se jogar nos braços e chamar de meu amor.
O Amor está por afinidade, e isso precisa de algum tempo para se descobrir.
Mas se ele não te ligou,talvez esteja perdendo a oportunidade de conhecer uma grande mulher, mas também de lhe dar a oportunidade de descobrir que vocês não combinam, e que ele não era tão interessante assim. Então relaxe e deixe as coisas acontecerem a seu tempo.
Vale a pena assistir o filme, se não servir de nada, ao menos irá garantir boas risadas.

AMARAL,Janice

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Contos de Maria Joaquina

CAPITULO 1

Me chamo Maria Joaquina, quero contar a minha história, porém nunca soube como começar. Resolvi começar do começo. Minha infância. Minhas vagas lembranças: O doce sabor do bolo de laranja, de fruta colhida no "pé"; os dribles; O contato com a natureza e suas peripécias; a falta de malícia; O encanto a cada nova descoberta. Mentes ansiosas buscando desvendar os mistérios do Mundo. Doces e amargas lembranças, cujo as cicatrizes carrego na pele e na alma.
Nasci no interior do Rio Grande do Sul. Na zona rural de uma cidadezinha provinciana com um nome prosaico: Cristal. Os caros leitores estarão se perguntando se tal cidade está no mapa? Sim. Situa-se entre Camaquã e São Lourenço do Sul. Piorou? Acredito que todos já ouviram falar em Pelotas e sua alcunha, capital nacional Gay, fica há uns sessenta quilômetros de lá.
A chácara em que nasci, localiza-se há uns trinta quilômetros do centro da cidade de Cristal, seguindo em estrada de chão batido. `A entrada, uma porteira com dois eucaliptos gigantes de cada lado, de onde era possível avistar a enorme casa de madeira rústica, em tom rosa desbotado pelas águas das chuvas, com portas e janelas em verde fosco. Ao lado direito da casa, um arvoredo, e logo abaixo um açude com a água refletindo o azul do céu. A esquerda, um terreiro, onde as galinhas costumavam ciscar e logo atrás duas estufas de secagem de fumo ( para os leigos parecia mais dois castelos medievais de tijolos à vista). Logo abaixo do terreiro, outro arvoredo, seguido de uma imensidão de campo florido. A mangueira ou curral geminada às estufas.
O cenário era esplendoroso. Ultrapassando a porteira, seguindo a estradinha ,a qual, levava até a casa, cerca de quinhentos metros, costeava um vasto tapete verde que daria de encontro a outra estradinha com o mesmo destino e outra porteira, " a porteira de baixo", esta com acácias postas propositalmente na mesma posição dos eucaliptos. Na chegada uma aroeira, cuja sombra servira para reunir a família para rodas de chimarrão, prosas e "causos".
Lembro de cada detalhe da velha casa. Quando nasci ela deveria ter uns vinte anos de existência. E se tratando de madeira simplesmente pintada com cal e uma mistura para deixá-la com o tom rosa, refiro-me a um longo período de tempo. O que lembro com maior nitidez são as frestas nas paredes e os buracos no assoalho ( estes serviam de ninhos para as aranhas). Quanto as frestas era possível ver o brilho da lua cheia, as estrelas na escuridão da noite, os primeiros raios de Sol. Dias de chuva? A água entrava pelas frestas e pelos buracos das telhas e ficava a escorrer pelo chão, ou caiam em baldes postos intencionalmente, aumentando o tilitar dos pingos. O tilintar se aproximava de nossas camas com tamanha nitidez, ecoando e ecoando. Eu não me importava. Sua música suavizava minha alma. Diminuía minhas aflições. Minha mente entrava no compasso ritmado do tilintar causando uma enorme sensação de euforia. Não lembro exatamente o que pensava. E se pensava. Lembro somente da invasão de felicidade que irradiava todo o meu ser, levando-me ao mais profundo sono.
No inverno aquelas frestas tornavam-se um suplício, o frio cortante. O vento minuano dos pampas gelava desde a orelha até as pontinhas dos dedos dos pés. Esse era um belo pretexto para o meu recôndito prazer: Refugiar-me embaixo do poncho, aconchegada nos braços de meu pai. O braseiro aquecendo nossos pés; sem esquecer do Rex, que juntava-se a nós e ao calor das brasas ainda incandescentes. Ah, o Rex era o nosso vira-latas.
Nesses dias gelados, também costumava ficar sentadinha no balaio de bambu, em frente ao fogão à lenha alimentando-lhes as chamas com gravetos, enquanto minha mãe fazia a "boia", canjiquinha ,broa de milho com banha de porco e ralhava conosco, eu e meus irmãos, que de vez em sempre nos atracávamos ao tapas;como eu era a caçula, sempre ficava em desvantagem. Já ia esquecendo de falar do Godofredo e da Joana, meus dois irmãos que participaram diretamente da minha infância, dois e quatro anos respectivamente mais velhos do que eu. Os outros cinco irmãos haviam partido para a "cidade grande", Novo Hamburgo, afim de estudar e ganhar a vida.
Falávamos da casa e das frestas. Havia um sótão onde eu e Joana nos escondíamos para não ajudar nas tarefas cotidianas do lugar. Apesar de nossa ajuda fazer diferença nenhuma. Ao contrário, atrapalhávamos os pobres peões. Fazíamos tudo errado. Eram tarefas simples ,tais como alcançar folhas de fumo para que fossem amarradas nos bambus, dar milho para os pintinhos (normalmente morriam de intoxicação alimentar rsrsrr), no entanto, totalmente entediantes para duas crianças. O Senhor Acilon, nosso pai, parecia um coronel, achava que tínhamos que ter obrigações. Ele ficou cego depois de um derrame por causa da maldita diabetes, aos quarenta e nove anos. Enxergava apenas vultos. Isso o deixava muito revoltado. Andava tropeçando, mas não perdia seu senso de independência, continuava consertando cercas, tosando os bichos, mantinha-se sempre ocupado, talvez para não pensar no problema. Admirava-o por sua força. Ele não admitia que sentissem pena dele. O seu revólver acompanhava-o por suas andanças a cavalo e ai de quem o contrariasse. Nunca desferiu um tiro com o tal revólver mas impunha "respeito". Quando ele precisava viajar para a cidade, Camaquã ou Canguçu, eu era a sua bengala. Colocava a mão no meu pescoço e saiamos às compras. A memória fotográfica do pai guiava-nos para onde quiséssemos. Ninguém acreditava. - onde estamos? Dizia ele. Eu respondia que estávamos em frente a tal lugar e ele indicava: -Próxima rua a esquerda. Eu havia sido alfabetizada a pouco tempo, tinha sete anos de idade apenas, mas grande utilidade para ler as placas indicativas e nome de lojas e avisar sobre buracos e obstáculos na calçada. Se eu o deixasse tropeçar, tapa na orelha. Como vivia no mundo da lua, frequentemente acontecia. Ficava observando os carros, as belas casas, encantada. Gente bem arrumada. Sonhando acordada em um dia morar num lugar desses. Acordava com uma bifa.
O plantio de fumo era o que nos mantinha e garantia um bom dinheiro no final de ano, o qual, nosso pai empregava em vacas,cavalos e outros animais, pagava a venda do Tadeu onde comprávamos fiado o ano inteiro. Também plantávamos batata, mandioca, feijão e verduras somente para o nosso consumo. Todo esse relato para dizer que ficávamos mocadas no sótão durante horas e horas e nosso pai percorrendo terreiro, galinheiro, potreiro, chiqueiro, furioso a nossa procura. Eram trinta e quatro hectares a serem vasculhas. Estávamos acima de suas cabeças e um passo em falso resultaria no desabamento do forro frágil. Ficávamos lá, brincando com os cascos de tatu ( o que restara dos pobres animais abatidos em caças esportivas). A "tunda" ou surra era inevitável no momento em que abandonávamos nosso esconderijo e deparávamo-nos com o carrancudo. Os vergões permaneciam em nossas pernas e braços, ou onde quer que tenham sido desferidos os golpes repressores aos direitos às delicias da infância por dias a fio. Desaparecidas as marcas, saiamos a procura de novos esconderijos, afim de aproveitar o tempo que jamais voltaria. Tínhamos sede de viver, brincar, como se inconscientemente soubéssemos, a infância, melhor fase de nossas vidas. As crianças são corajosas, instintivas. Vivem cada momento intensamente, sem medo. Depois somos escravizados pela RAZÃO da "maturidade". Subíamos nos pés de goiabeira consumindo vorazmente seus suculentos frutos oferecidos generosamente pela Mãe-Natureza. Percorríamos as sangas(pequenos córregos)com potinhos afim de catar caranguejos, de pés descalços com a água gelada e transparente a acariciá-los. Caminhávamos por ela até encontramos a sua nascente. Erámos indiferentes a todos os perigos, cobras, pedras cheias de limo, os galhos secos, espinhos (dai vem as cicatrizes). Dizem que toda criança tem um anjo da guarda protegendo-a. Acredito que dávamos muito trabalho para os nossos. Ao detectar nossa ausência novamente, meu pai não perdoava e mandava o meu irmão Godofredo, "seus olhos", nos procurar e ele era esperto o suficiente para nos encontrar pois conhecia as nossas artimanhas e esconderijos. Criado segundo o machismo patriarca acreditava na autoridade através da violência, orgulhando-se em bater-nos impunemente.
No outro dia, ou no outro encontrávamos novas maneiras de tripudiá-los, indiferentes as punições provenientes.
Tinhamos duas éguas, a cabana e a girafa, não perguntem porque uma égua se chamava girafa, acho que porque ela era grandona ,filha da cabana, nasceu num dia de inverno, logo acima da taipa do açude, potra de patas longas, esguia. A Joana fora presenteada com o filhote. A cabana era égua de corrida, os menos experientes não podiam se aventurar a montá-la pois a queda era certa e o tombo feio. Já a girafa, égua de galope, porte aristocrático. Eu preferia montar a cabana, como eu era mirradinha, grudava-me nas crinas dela e saia em disparada, rumo aos campos. A brisa tocando a minha face, o ar puro com cheiro de eucalipto e flor de acácia, o amarelo exuberante dos malmequeres diante dos olhos. Sensação de liberdade. Inesquecível. Sensação tamanha só era sentida nos mergulhos no açude. Aquela água esverdeada e barrenta, cheia de sangue-sugas, exercia um fascínio sobre nós. Passávamos horas e horas lá dentro até a pele enrugar. Nadar, nadar, nadar, boiar...lembro da sensação de flutuar sobre a água sentindo o sol dourar a pele. Era eu e o mundo e o mundo era só meu. A canção dos pássaros tornava-se algo indescritível. Sentia a pulsação do Mundo, como se pudesse sentir o pulsar do coração de Deus. Quando saia da água, às vezes, ficava alguma sanguessuga grudada em mim, corria desesperada rumo a casa gritando socorro, minha mãe ria e colocava sal nas malvadas que derretiam. ufa!!! Como pode os bichinhos derreterem? Ficava com pena delas por alguns instantes mas o alívio era maior.
Todos os finais de tarde localizávamos os terneiros e conduzíamos eles à mangueira afim de mantê-los presos até o outro dia, e assim impedi-los de mamar para sobrar algum leite no ubre das vacas para o nosso café da manhã. Todos os dias, maquinalmente às sete horas da manhã, Dona Jandira, minha mãe, ordenhava as vacas. Nossa tarefa algumas vezes tornava-se árdua quando os bezerrinhos se embrenhavam nos banhados, arregaçávamos as calças e seguíamos em frente. Diante das adversidades tirávamos proveito, atacávamos os araçás e amoras que encontrávamos pela frente. E havia muitas árvores frutíferas por aquelas bandas alagadiças. A missão terneiros, transformava-se em algo prazeroso, no entanto, durava o triplo do tempo a ser concluída. Chegávamos em casa ao cair da noite. Imundas.
O cair da noite, como posso descrevê-lo? O céu avermelhado colorindo o horizonte enquanto o Rei Sol fazia a sua despedida majestosa atrás das montanhas. A penumbra rejubilava-se lentamente diante dos meus olhos, o crepúsculo da noite e de repente o breu, nítido somente as estrelas prostradas no céu como brasas incandescentes. O silêncio do lugar quebrava-se com o coaxar dos sapos. Uma música melodiosa, quase triste, ritmada com os sons emitidos pelos grilos. Confesso que sentia muito medo. A noite ressuscitava todos os mitos: mula-sem-cabeça, saci-Pererê, negrinho do pastoreio. Eles assombravam-me. Via-os por toda a parte. Eu não ousava por os pés na rua durante a noite.
Ao retornarmos de nossa missão terneiros, gosto de chamá-la assim, encontrávamos nossa mãe cortando lenha e esbravejando contra os animais que ousavam aproximar-se. Cada machadada desferida com fúria. Gritos mudos. Cada galho partido, cada golpe, um desabafo. Ela sofria calada. Sua submissão reprimida vinha à tona e naquele momento, extravasada. E num ateísmo explícito blasfêmias proferidas. Trabalhava desde o raiar do dia até a hora de todos desfrutarem o mais profundo sono. Servia a todos. Não obtinha qualquer reconhecimento. Guerreira, mulher guerreira!!!
E nesse paliativo melancólico coloco a singularidade do sofrimento com a pluralidade da beleza num paradoxo inexorável.

capitulo 2
Finais de semana

Todos os sábados minha mãe escovava o assoalho de madeira, ariava o fogão, varria os terreiros, tirava os estercos das vacas das estufas. Era o prenúncio de visitas. Depois da faxina, ela se punha a fazer bolos de laranja, cucas. Ah, o bolo de laranja, fico com água na boca só de lembrar o sabor.
A beleza do lugar tornava-se maior ainda, o cheiro das guloseimas, de terra molhada do terreiro recém-revirado misturado com a expectativa de novas companhias e novidades da cidade.
Lembro-me nitidamente da explosão de sentimentos do meu pequeno ser. Minha mãe também ficava alegre e cantalorante. Eu contava os minutos a espera do ônibus das dezessete horas, isso porque a condução só passava duas vezes ao dia: às oito da manhã e às cinco da tarde.
Ouvíamos o ronco do motor do veículo e corríamos em direção à porteira, se parasse: visitas ou alguma correspondência (Não havia telefone, nem correios por aquelas bandas). Se não, frustração.
Quando alguém apeava do ônibus, corríamos em direção do indivíduo, afim de uma recepção mais que afetuosa, sem ao menos saber quem era a criatura. A distância tornava impossível a distinção de sua fisionomia. Na maioria das vezes, o visitante era um de nossos irmãos que viera passar o final de semana conosco ou tio ou primo com o mesmo intuito.
Certa vez, frustramo-nos ao correr na direção do visitante. Eis aqui uma bela estória ou melhor, história pois aconteceu de fato: O indivíduo apeou do ônibus e lá foram as pirralhas ao seu encontro de braços abertos, prontas para pular no pescoço do suposto parente para dar-lhe um abraço mais que efusivo. Tamanha decepção ao deparamo-nos com um alemão de um metro e noventa de altura, pescoço vermelho, orelhas e nariz exuberantes. Era o namorado da minha irmã Sara, uma figura cuja feiura saltava aos olhos, mas este, com certeza fora o amor de sua vida. Dizem que gostos, cores e amores não se discutem. O enamorado vinha em missão de paz e amor, literalmente, pedir o consentimento para noivar com sua amada. Cumprimentamos o desconhecido e voltamos tristes para casa.
Quando o alemão apresentou-se como namorado da minha irmã, meu pai pediu para falar-lhe em particular, na sala de estar, com as portas fechadas, e partiu para o interrogatório:
-Tu é filho de quem?
-Sou filho do Senhor Osvaldo Rotishild que mora ao lado da venda do Senhor Darci Becker. Respondeu enfaticamente, cheio de orgulho.
-Conheço teu pai faz alguns anos, um homi muito trabalhador, pena que é alemão. Caçoou o velho, mas vamos direto ao ponto:
-Quais são tuas intenções com minha "fia"?
-Quero conhecê-la melhor, visitá-la, para então daqui um ano casarmo-nos? Respondeu o pretendente meio temeroso
-óia, com minha fia ninguém fica de trololô, muito menos um alemão fio da puta, tu têm dois meses pra casar.
-Dois meses é muito pouco tempo, ainda não estou preparado.
-Ninguém fica bulinando minha fia pra depois deixa dela e fica mal falada, ou isso ou nada.
-Dois meses é muito pouco tempo, não consigo arranjar tudo em tão pouco tempo. E o alemão começou a ficar mais vermelho do que já era.
-Então te some daqui seu alemão sem vergonha. Dito isso sacou o revólver vinte e dois.
O alemão mais que de pronto, abriu a porta da frente da casa e saiu em disparada e não olhou para trás até chegar à estrada. Não preciso dizer que nunca mais voltou.
Em alguns sábados ninguém aparecia, conformávamos em passar os domingos à tarde na casa de alguns vizinhos mais próximos, sendo que o mais próximo ficava há uns três quilômetros de distância da minha casa. Essa era a Dona Cleni, a mais próxima e a minha vizinha predileta. Uma Senhora negra, muito obesa, um metro e meio de altura e pesando uns noventa quilos, vestia-se com saias ou vestidos abaixo dos joelhos pois pertencia a Igreja Evangélica, Deixava a mostra apenas suas veias protuberantes em suas grossas panturrilhas. Possuía uma sabedoria extrema, sua simplicidade exalava bondade e amor. Contava seus mitos ou histórias de velhos conhecidos com tanta ternura que prendia minha atenção.
Seu rancho era humilde, mas sempre cheio de pessoas queridas ao redor do fogão ouvindo suas histórias. Um ranchinho de sapê e pau-a-pique rebocado com barro, piso de chão batido, portas de madeira com tramela ( tranca de madeira). Luz elétrica era privilégio de poucos por aquelas redondezas. A luz de lampião exalava o cheiro de querosene queimado em sua fumaça negra, a qual se unia numa dança ritmada com a fumaça do fogão à lenha; o fogão feito de tijolos ficava no cantinho da cozinha, ao lado as tinas de barro que serviam para armazenar a água esverdeada trazidas em baldes da cacimba ( reservatório de água numa nascente de água)no ombro das negrinhas. Na sala de visitas havia dois grandes bancos de madeira e uma mesinha no canto com o radinho de pilha, logo acima um calendário com a imagem de Jesus Cristo, ao lado uma porta, pela qual podíamos ver um dos quartos, lá uma enorme cama de madeira com um colchão de palhas de milho, forrado com uma colcha de retalhos coloridos, logo ao lado um enorme edredom feito de plumas de ganso cuidadosamente dobrado. Também era possível avistar o pinico embaixo da cama. Banheiro? Era a moita mais próxima.
Pelo que descrevo os caros leitores possivelmente estão a imaginar um lugar decadente, tépido e deprimente. Não era. Havia harmonia naquele lar. Aconchego e cheiro de lavanda. As pessoas que lá viviam, Dona Cleni, Seu Genor e as três filhas: Cláudia, Claudete e Gracinha eram felizes. E não venham questionar o conceito de felicidade que aqui aplico. Digo uma felicidade pura de valores morais e não materiais. Riam de tudo e achavam graça de si mesmas. A Gracinha era a mais risonha de todas e riamos apenas de sua risada contagiante. Plantavam o que comiam e alguns desses alimentos trocavam por outros que não cultivavam com seus vizinhos. Tinham uma mesa sempre farta. Esperavam a vida passar sem angústias, sem anseios. Durante o dia trabalhavam na lavoura, a tardinha alimentavam os animais. Missão cumprida. Tomavam seus banhos na sanga ( pequeno córrego)ou de bacia mesmo, quando estava muito frio. Reuniam-se ao redor do fogão. Tomavam seu chimarrão. Jantavam. Dormiam. No outro dia tudo recomeçava, sem pressa, sem trânsito. Os sábados eram reservados as faxinas, as mulheres limpavam a casa, Seu Genor limpava o terreiro. Os domingos eram sagrados, iam ao culto pela manhã agradecer por suas bênçãos da semana: Saúde e uma mesa farta. Á tarde aguardavam suas visitas com uma mesa farta de guloseimas: Paçoca de amendoim, aipim frito, bolinhos de chuva e café preto. Eu, Joana e a minha mãe apreciávamos muito a companhia deles, as guloseimas e as altas gargalhadas da Gracinha. Meu pai não acompanhava-nos, odiava os negros.



AMARAL,Janice

sábado, 10 de abril de 2010

Eterna busca...

Sigo em frente
rumo ao desconhecido;
Rumo ao intangível;
Um caminho sem volta,
a busca da sabedoria;
A única consciência que tenho:
Minha total ignorância diante da
imensidão do universo...

AMARAL,Janice

Outono...

Suave estação
de manhãs de orvalho;
Friozinho acolhedor;
Sol morno;
sinfonia de Beethoven;
Folhas caindo na estrada rumo a
serra ou mar;
Requinte,charme em seus adornos
Estação do amor;
Dormir coladinho;
Sabor de fundi, vinho...
soninho gostoso...
Ah,Outono quero todo o seu fulgor...

AMARAL,Janice

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vencedores e perdedores...

Nos meios corporativos, no esporte,ouve-se cada vez mais as expressões: "vencedores" e "perdedores" ou "campeões" e "fracassados";"Não há mais espaço para perdedores"; "o sucesso são para os fortes" ou "dicas para não ser um fracassado".
Os vencedores são aqueles que estão sempre rindo, os vendedores "top-performance", os jogadores goleadores, os diretores de multinacionais, enfim os melhores. Eles já acordam bem humorados. Confesso: Detesto gente bem humorada de manhã cedo. Será que sou uma fracassada?
Ah, os vencedores: Eles não tem enxaqueca, muito menos família. O trabalho está sempre em primeiro lugar. Para eles tudo é possível, não existe crise ou queda na bolsa de valores. Eles foram programados para dizer sim, mesmo que sejam mandados para "pqp". Segundo lugar é coisa de "perdedor". O melhor carro, o melhor computador, enfim tudo que for de última geração e faça inflar seu ego torna-se o kit de um "vencedor".Sem esquecer a namorada top, jantar nos melhores restaurantes. É isso que move um vencedor.Será que instalaram um chip na cabeça deles?
O lixeiro, o padeiro,o garçom são todos "perdedores", acomodados. Como podem se contentar com tão pouco? Mas será que a vida pacata deles não é mais interessante? Não precisam representar o tempo todo. Muitos têm uma família linda ao redor da mesa que pode não ter muitos recursos materiais, mas que tem amor, paz, harmonia. E o que seria dos "vencedores" se não fosse os "perdedores" para serví-los?
Os "perdedores" têm tempo para passear no final de semana, nem que seja pescar num pesque-pague pois não tem relatórios para fazerem.
Os "perdedores" questionam e por isso não são promovidos (rsrsrrs).
Nada contra quem é bem-sucedido. Parece recalque ou coisa de "fracassada". Na verdade admiro muitas pessoas bem-sucedidas. Estou me referindo aos jargões esdrúxulos que definem pessoas e não qualificam a sua moral.
É preciso ter ambições e não necessariamente ser ambicioso.
Pode-se ser bem-sucedido em algo sem diluir a sua essência. Muitos são vitoriosos por amarem o que fazem. E outros são mau sucedidos justamente por amarem o que fazem. E bem ou mau, não define-se por quanto você ganha e sim por sua satisfação pessoal.
Enfim, enquanto não instalam um chip na minha cabeça me contento em ser medíocre,não no sentido pejorativo, uma reles mortal, tentando ser feliz.
E como diria uma grande amiga: "Nem muito, nem pouco, apenas seja."

AMARAL, Janice

terça-feira, 6 de abril de 2010

Bolinhos de chuva.

Hoje está chovendo. Fazendo aquele friozinho tipico do Rio Grande
do Sul. E me deu uma imensa vontade de comer bolinhos de chuva, aqueles cobertos de açúcar e canela. Bem calórico. Que delícia!!! Que gostinho de infância!!! Para quem não sabe: Bolinhos de chuva, não são feitos de chuva (rsrsrs). São bolinhos com massa batida com ovos, farinha e açúcar e fritos, pelo seu formato de gotinhas, são chamados de bolinhos de chuva. Depois de fritos são bezuntados em açúcar e canela.(hummmmm, sinto até o cheiro)
Lembro quando minha mãe fazia os tais bolinhos. Normalmente quando chegava visitas, lá ia ela, as voltas do fogão à lenha.Coitada!!!Não vencia fritá-los. Eu e a Márcia, minha irmã, eramos umas gatunas sorrateiras. Pé por pé e enchiamos as mãos daquelas delícias e saiamos correndo para apreciá-los. Sei que isso não é exemplo de educação. Eramos terríveis. Mas quem pode privar uma criança das delícias da infância? Ela ficava furiosa e ameaçava-nos com uma varinha. Isso detia-nos por alguns instantes, mas bastava uma distração para novas investidas. A visita, é claro, ia embora horrorizada.
Saudades da infância, nossa única preocupação era fazer o "tema" de casa. Depois era correr pelos campos, tomar banho de açúde, cavalgar.O mundo era tão grande,sentir o cheiro das flores,subir nos "pés" de goiabeira, catar araça, amoras, ficar procurando os ninhos de passarinhos e observando o milagre da vida. Acariciar os animais sem medo de ser devorados por eles.Andar de pés descaços sem medo das rosetas que haviam nos campos.Catar carangueijos nas sangas.Acredito também que nosso anjinho da guarda estava sempre de prontidão e tinha trabalho.
Fico pensando em como é diferente hoje, as crianças que passam a sua infância dentro de um apartamento, em frente a tv ou computador. Parece um mundo amplo.No entanto, é limitador, no meu ponto de vista. Pois a concepção de mundo dessa criança é criada por alguém, idéias prontas, conceitos de felicidade; não é sentida, criada por ela.Certa vez, ouvi uma frase do meu professor: "o excesso de informação desinforma".
É necessário um contato com a natureza, com os animais, para que seja desenvolvida a criatividade, a afetividade e a intuição das crianças e para que não haja um amadurecimento precoce, antes que estejam preparadas para a vida adulta que é nada fácil.Pode ser uma pracinha, zoológico, brincar com o cachorro,ser lobinho dos escoteiros, jogar futebol com os amigos, vôlei, piscína do clube, enfim atividades que sociabilizem, estimulem,divirtam...afinal nem todo mundo nasceu no meio do mato com eu (rsrsrsrrs), brincadeiras a parte,o mundo não deve ser decorado como uma tabuada e sim sentido.
Opa, voltando ao assunto: Tenho que fazer uma visitinha para minha mãe e assim poder abraçá-la e agradecer por não ter me privado dos prazeres da infância. E claro vou pedir com todo carinho para que ela faça os bolinhos. Vou me comportar. Afinal, já sou adulta. Ou não?!

AMARAL,Janice

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Morte.

A vilã mais temida por todos.
A mais cruel das derrotas.
A única coisa certa nessa vida.
Confesso: Não tenho medo dela.
No entanto, temo de que forma ela virá.
Espero que ela chegue enquanto eu estiver dormindo.
Um sono que não acordarei.
Não a desejo tão cedo.
Sei que quando meus ossos estiverem cansados,
Meu corpo judiado pelos sofrimentos
Vou acolhê-la como meu refúgio e meu descanso.
Ah, vilã!!! Ninguém gosta de pensar em ti, mas será pela morte em si...
ou por medo de que ninguém sofra, chore a nossa ausência...
Será por medo de não termos marcado a nossa existência e não deixar um legado, por isso aquele velho ditado:
"Tenha filhos, plante uma árvore, escreva um livro..."
E será que a morte é o fim, ou apenas um começo?
A nossa Existência é aqui, estamos aqui para aprender e evoluir.
Crescer com nossos erros, sofrimentos, ajudar uns aos outros. Há pessoas que vemos uma vez, mas que mudam a nossa história com uma palavra. Essa pessoa já marcou a sua passagem.
O que há do outro lado?
Não sabemos. Por isso façamos o melhor para que se faça valer a nossa VIDA.
Um colega falou que a VIDA é uma novela, e que cada pessoa que cruza conosco faz parte de um capítulo: colegas, amigos, familiares e que ao virarmos a esquina a pessoa que cruza por nós esta fazendo parte de um novo capítulo.
Então sejamos os autores de nossa própria história e façamos o melhor de nossa biografia, enquanto esperamos a nossa temida vilã.

AMARAL,Janice

Homenagem a um mestre...

Tu és um ser incomparável,
Tua incansável luta para ensinar;
Mostrar novos caminhos;
Renovar esperanças;
Tu és o passaporte para o futuro;
Será vocação ou divina inspiração?
As duas coisas.
Tu és vocação porque tem o dom de abrir os olhos dos menos abastados,
despertando-os para a vida,mostrando a força
que cada um possui e que podemos fazer o que
quisermos, ser quem quisermos ser;
Basta acreditar;
Basta buscar;
Basta saber que temos muito o que aprender;
mas que também aprendemos muito contigo: Acreditar e lutar pelos nossos sonhos;
Tu és Divina Inspiração porque tudo isso é feito de coração.


Homenagem ao professor Paulo kubiack
texto de 1997

AMARAL, Janice

Tu foste...

Tu foste o sonho mais perfeito;
O devaneio da minha mente;
A insanidade;
A embriaguez da minha alma;
A luxúria da minha carne;
O arco-iris a colorir os meus dias;
A brisa que num sopro despertou-me;
Doce devaneio;
Divina insanidade;
Não queria acordar desse sonho;
Mas agora estou de volta a realidade;

AMARAL, Janice

O livro da vida...

O livro da vida se fechou
Não há nada mais a ser escrito, exceto desilusões...
As palavras, outrora, doces como mel tornaram-se amargas como fel.
O coração já não pulsa com intensidade.
Não se impressiona, emociona, nem mesmo decepciona, apenas pulsa...
Toda vida e esperança foram sucumbidas por um mar de hipocresia materialista...Até mesmo o Homen tornou-se matéria bruta: PEDRA.
Pedra sim, pois pedra não sente, não pensa, não respira...
A essência sufocada grita por liberdade...
Quer fazer-se vida, luz, inspiração...
Inspiração para que um novo livro seja escrito
onde a pedra bruta seja dissolvida em essência pura...

AMARAL, Janice

Pessoas...

São realmente pessoas:
Aqueles que valorizam os indivíduos pelo que eles são...
Aqueles que enxergam o que se passa na subjetividade de cada um...
Aqueles que sabem o valor das coisas e não o preço...
Aqueles que procuram as qualidades, ao invés de procurar os defeitos...
Aqueles que incentivam, levantam a auto-estima do outro ao invés de depreciá-lo...
Aqueles que despertam de melhor no seu próximo, ao invés de torná-lo um ser instintivo...
Aqueles que plantam o amor não a discórdia...
Aqueles que sabem respeitar as diferenças pois ninguém é igual a ninguém...
Aqueles que se não tem algo de bom a dizer simplesmente se calam...
Aqueles que não usam a fraqueza dos outros afim de tripudiá-los e assim se sentirem menos pequenos e insignificantes.
TODAS AS PESSOAS QUE SIMPLESMENTE SAIBAM VALORIZAR PESSOAS...

AMARAL, Janice

A chuva...

No seu ritmo embalo minha alma;
Em suas águas mergulho meus pensamentos;
Sua música suaviza minhas aflições;
Nos trovões levanto as mais interessantes questões:
Somos átomos atordoados?
A inspiração surge ao ouvir o tilitar dos pingos que caem
nessa terra de leigos e abastados;
E os poetas sorriem no ritmo incansado do embalo das almas
condensado numa folha de papel.

AMARAL,Janice

O amor...

É brisa que toca nossas faces;
Ondas que embalam nossas almas;
É o orvalho da manhãs..
É nuvem que flutua em nossos pensamentos;
É sol faiscante a colorir o horizonte de nossas vidas;
É o perfume das flores;
É inspiração a tudo que fizermos;
É compaixão a todos que encontrarmos e
precisam apenas de um sorriso ou um olhar compreensivo;
São infinitas palavras;
Infinitas descrições;
Amor foge a dicionários;
A regulamentos vários;
sem amor não vivemos;
Deixamos de viver...

AMARAL, Janice

Poesia

O que é poesia?
É divina inspiração;
Externar sentimentos;
Sentimentos puros ou impuros;
Externar pensamentos;
Retrógados ou revolucionários;
sentimentos e pensamentos insanos;
Sentimentos e pensamentos sejam eles quais forem...
expostos, dilacerados...
Aflorados da alma,da vívida essência...
Não para que sejam lidos,
mas para que sejam sentidos...

AMARAL,Janice

Cárcere

Vivemos numa época na qual tornou-se muito fácil termos intimidade,no entanto, muito difícil tornarmo-nos intimos.Estamos envoltos por uma redoma de vidro onde ecoa somente o eco de nossas próprias vozes.
Será que as pessoas não conseguem nos ouvir? Ou será nossos pensamentos e vozes que ecoam e ecoam tornando imperceptíveis qualquer tipo de comunicação? E será que esse eco permite que ouçamos o outro também?
Tornamo-nos seres frustrados por causa dessa total clausura.
Esperamos que ALGUÉM nos resgate da masmorra de vidro na qual vivemos e preencha todo o nosso vazio existencial, porém, nem nos damos ao trabalho de tentar abrir a porta. Será que ela está trancada?
Quando descobre-se que não há alguém com essa fórmula mágica, a chave da masmorra,há apenas reles mortais com os mesmos medos, anseios e estão presos, talvez, na masmorra logo ali a frente, separados apenas pelo corredor e basta girar a maçaneta para abrirmos a porta, entramos em pânico e o primeiro ímpeto é ficarmos acuados com medo do que possa haver lá fora. Estamos acostumados com aquele habitat. Para que arriscar?
Como diria Cazuza: "Senhor piedade de quem não sabe amar, daqueles que vivem inventando paixões que caibam nos seus sonhos", ou seja, a masmorra, a prisão, o cárcere limitador.
Tirarmos nossas máscaras, mostrando quem realmente somos com toda a nossa bagagem: Medos, culpas, simplicidade, sonhos;sem transferirmos ao outro a responsabilidade pela nossa felicidade está cada vez mais difícil, por isso nos fechamos no cazulo de nossa existência.
E o que essa tal felicidade?
Não posso deixar de citar Aristóteles que disse: " A paixão é o maior dos vícios humanos, pois consiste em dois extremos: Fuga desesperada da dor e busca desenfreada do prazer."
Por tanto, no meu ponto de vista, a paixão é o sentimento mais egoísta que existe pois é uma via de mão única e não raro, andamos na contramão e atropelamos o outro. Pelo simples fato de não o enxergarmos. Se não o enxergamos, muito menos sabemos quem ele é, sente ou pensa e se esta estatelado no chão, machucado;Preferimos ignorar. Caçadores de novas paixões, num circulo vicioso,ora atropelando,ora sendo atropelado.
Já no amor, não há espaço para superficialidades.
No conto de Eros e Psiquê: Psiquê tira a máscara de Eros, e descobre que ele não é um monstro (a morte que deveria desposá-la), e sim o Deus do Amor, ao contrário do que suas irmãs intriguentas falavam.
O que há atrás da máscara? Só poderemos descobrir tirando-a. Para tal ato é preciso coragem.
Ah, a felicidade? Talvez seja aquele momento que poderia ser congelado e eternizado;se o tivéssemos percebido.

AMARAL,Janice

sábado, 3 de abril de 2010

Obra de arte...

Sinto sua boca
sinto seu cheiro
Respiração ofegante
álito com álito...
Me perco no infinito de sua boca;
Dois corpos, um só corpo, moldados, esculpidos;
Mãos, braços, pernas entrelaçados
corpos estremecidos num frêmito alvoroço
uma obra de arte da natureza...
Um misto de sensações,
Insaciável vontade de ter, absorver a alma do outro,
corações disparados,
corpos suados...
cada segundo, cada instante num sôfrego insessante...
o Mundo pára...
o Tempo não pára...
Torna-se pouco...
Muito pouco para nós dois...

AMARAL,Janice

Penso, logo desisto.

Penso, penso, penso...Não quero mais pensar...desisti!!!
Na realidade nem sei mais o que pensar e se ,às vezes, é melhor nem pensar.
Tudo bem!!! Onde quero chegar?
Quem pensa sofre.
Sofre porque passa a enxergar a realidade. Será que estou sendo realista ou pessimista? Ou todo realista é pessimista? Ou todo pessimista acha que é realista?
Acredito que a realidade depende da percepção de Mundo de cada um.
Se deixarmos a TV ligada nos noticiários chegaremos a conclusão de que o Mundo irá acabar em 2012 ou 2014 ou...terremotos,enchentes, assassinatos, pai que mata filho, filho que mata pai, doenças,epidemias...mas isso tudo sempre existiu, só que com a multiplicação dos meios de informações que insistem em dar enfoque as "tragédias" pois é mais comercial, as coisas parecem bem piores.
Não seria mais interessante a mídia divulgar as ONG´s, trabalhos voluntários, exemplos de pessoas que superam seus limites, lugares maravilhosos? Enfim (N) opções de notícias que poderiam ser repassadas para a população.Quem está limitado a TV aberta, as camadas menos favorecidas, estão fadadas a ver o mundo com os olhos dos "fabricantes de informações"(sociedade do espetáculo) e talvez até achar que essa é a REALIDADE. E será que eles estão sendo pessimistas ou é o Mundo que eles podem conhecer? Afinal, grana, serve para suprir as necessidades básicas tais como: comer, morar, vestir-se...quando isso é possível.
O Mundo é maravilhoso basta percebê-lo com os olhos da alma, ouvir o canto dos pássaros, andar de pés descalços na grama, tomar um banho de chuva sem medo de pegar uma gripe, perceber o milagre da vida quando nasce uma criança. Não precisamos de muito dinheiro para viver mas com valores distorcidos da sociedade em que TER é mais importante do que SER, O SER tornou-se escravo do TER e perdeu-se referenciais básicos tais como:
Amar ao próximo como a si mesmo...
Apreciar a Natureza e o espetáculo da vida
Dar valor a coisas simples que o dinheiro não pode comprar.
Por isso não quero mais pensar, quero apenas sentir a brisa acariciar minha face e sentir a imensa satisfação de viver.

AMARAL,Janice