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sexta-feira, 23 de março de 2018

Ambiguidade e Heidegger

No parágrafo 37 Heidegger discorre sobre a ambiguidade do Dasein. A intenção é fazer uma análise sobre a mundidade do Ser em sua cotidianidade , e para isso há a necessidade de análise do ser um com o outro. Trata-se do senso comum, do “a gente” que emite opinião sem comprometer; Aquilo que é apreendido e expresso e no fundo, não o é, ou então, naquilo que parece e no fundo é. Qualquer um pode dizer qualquer coisa.
A ambiguidade se estabelece no poder ser, nas diversas possibilidades do dasein, no que ainda não esta “aí”. Esta no rastro de, na suspeita disso ou daquilo, no entanto, se o fato vir a se concretizar o interesse morre imediatamente.
O interesse só se mantém nos modos de curiosidade e do falatório, no suspeitar em comum (não há interesse real). Esse ser junto ao outro enquanto “a gente” esta no rastro, rejeita a companhia do outro quando execução do suspeitado se efetiva. Pois com essa efetivação o Dasein tem que voltar para si mesmo.
Falatório e curiosidade na sua ambiguidade preocupam-se com o que é demasiadamente novo e de modo autêntico (na sua facticidade) já tenha se tornado demasiadamente velho para a sua publicidade.
A ambiguidade do Ser interpretado dá um breve discorrer sobre ele e a suspeição curiosa tomada como verdadeira, e a ação e execução carimbada como algo secundário. O outro é aquilo que se ouviu falar dele. O falatório se intromete no ser um com o outro e se fixa em como o outro se comporta e no que dirá a esse respeito. Esse estou um com o outro num eterno vigiar esta sob a máscara de um pelo outro mas na realidade opera um contra o outro ((o inferno são os outros).
O tempo do DASEIN é mais lento e só pode tornar-se livre em suas possibilidades positivas quando o falatório se tornar ineficaz e o interesse público tenham cessado, ou seja, o entender do “dasein” em “a gente” se equivoca quanto as autênticas possibilidades do Ser.
A intenção de Heidegger não é uma análise ética do Ser Humano, mas uma análise conceitual das diversas possibilidades do DASEIN;
Apesar de sua erudição, ele consegue esmiuçar a cotidianidade do Ser com uma simplicidade surpreendente. Confesso que muitas vezes, pensei em desistir de entendê-lo, mas basta um pouco de concentração, esforço e reflexão para entender sua intenção ou , ao menos penso que entendi algo.
Como pode ele ser tão atual? Um Homem à frente do seu tempo, à frente do nosso tempo.
Trazendo sua análise para os dias atuais: O Homem continua o mesmo depois da existência de Heidegger, em sua mundidade, em sua cotidianidade; Vivemos numa sociedade de espetáculo onde as celebridades são espiadas por lentes curiosas e o falatório não se preocupa se o que esta sendo visto é real. Revistas, sites, noticiários de fofocas estão no rastro de, a suspeita de, e quando se averigua o fato, que não era nada daquilo que se pensava, que era apenas especulação, burburinho, a notícia tornara-se velha e a imagem daquele Ser já fora distorcida. E fica difícil de saber quem são os outros reais ou os outros inventados. O facebook é outro exemplo.
O Ser independente do tempo continua o mesmo e em busca de si mesmo, servindo-se do outro como espelho que possa refleti-lo.