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domingo, 26 de agosto de 2018

SOBRE A BREVIDADE DA VIDA

Sêneca foi um dos mais importantes filósofos romanos. Também era político, escritor e dramaturgo. Nasceu no ano 4 a.C. e viveu até o ano 65 D.C e pertencia a escola de filósofos estoicos.
Neste tratado sobre a brevidade da vida, uma epístola (carta) escrita para Paulino, tem no título a clareza do texto. Alguns pontos são destacados por Sêneca, como a não compreensão da natureza, o modo de vida regada a vícios e prazeres, o excesso de trabalho, homens muito ocupados, entre outras analises, críticas e ironias. Tendo como objetivo levar a mudança da concepção do tempo em relação à vida e os movimentos que ela faz em nossa volta.
Sêneca fala sobre a brevidade da vida de uma maneira bem simples, sem muito apelo a termos complexos da filosofia. O que mais fascina, da obra, é como os temas tratados são tão atuais, tendo em vista que a carta foi escrita logo no primeiro século depois de Cristo e estamos em pleno século XXI e as ideias permanecem atuais.
Sêneca explica que o tempo de vida que a natureza nos dá é pequeno se comparado com outros animais, já que conseguimos ver no máximo três ou quatro gerações da nossa família.
Ao mesmo tempo ele cita que o nosso tempo de vida é enorme, e a sensação de brevidade se deve ao fato de fazermos mau uso dele, tal como uma pessoa que herda uma grande riqueza e por ser uma má administradora de recursos gasta-a de forma inapropriada.
"A vida se divide em três períodos: aquilo que foi, o que é e o que será. O que fazemos é breve, o que faremos, dúbio, o que fizemos, certo."
Outra ideia interessante é a de que contamos nossa idade por anos de existência e não anos de vida. “Vivemos” pouco nesse período entre o nascimento e o dia atual, pois se descontarmos o tempo que ficamos doentes, resolvemos problemas alheios ou insignificantes, o tempo gasto no trabalho, enfim, tudo aquilo que não foi dedicado 100% a felicidade, ao aproveitamento pessoal, foi perdido.
E de que nada adianta se privar da vida agora e adiar a alegria para o futuro, quando não temos mais a mesma força e aproveitamento de quando éramos mais jovens.
"Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados fazendo nada."
Sêneca dá uma aula do porque gastamos um bem tão precioso que é o tempo de vida com pormenores, que trocamos uma vida cheia de possibilidades por uma existência nula e fracassada.
"Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas rugas e cabelos brancos: ele não viveu muito, apenas existiu por muito tempo."
Seu modo de vida foi questionado, pois entrava em contradição, muitas vezes, com suas teorias. Pagou com a própria vida e morreu de forma lenta e dolorosa, tendo tempo para refletir e ainda ditar cartas para seus discípulos.

TRAÇOS FILOSÓFICOS NA OBRA
Difícil distinguir se é uma obra filosófica ou literária, pois trata de questões profundas sobre a natureza ,vida, morte, modos de vida, porém ele trata desses assuntos de forma literária, fluida, sem a densidade de algumas obras filosóficas.

A MORTE DE IVAN ILITCH (( LEV TOLSTÓI)

O autor Tolstói consegue nos remeter ao cenário, consegue despertar o imaginário, o defunto de cor amarelada, nariz protuberante, a cena do velório, as minúcias de sua narração.
Tolstói através do livro A Morte de Ivan Ilitch faz uma critica social sobre as convenções e de como as pessoas conduzem suas vidas de acordo com o que é imposto pela sociedade. Pessoas que utilizam seus trabalhos burocráticos como refúgio de uma vida medíocre e infeliz, com a justificativa de que está tudo bem e que assim deve ser. Ele é ácido ao descrever a vida de um homem que possui um casamento fracassado, mas que justifica sua infelicidade através de uma carreira jurídica “bem-sucedida”, onde ele se torna um objeto padronizado e se orgulha por isso. Tolstói através de Ivan Ilitch mostra como as pessoas se desumanizam compensando suas dores e angústias pela mera remuneração material e ostentação de objetos de consumo e como consequência atraindo bajuladores para inflar seu ego. E somente com a chegada da morte e a consciência de que ela é inevitável a todos nós, passamos a questionar se a vida foi vivida da melhor forma.
A lida instrumental com o mundo torna as relações humanas superficiais, o fingimento passa a ser algo natural mesmo dentro das suas relações familiares, falsa polidez, falsa preocupação com o outro mantêm o mundo de aparências felizes. Seu mundo se desconstrói através da dor, da angústia da morte, da solidão das barreiras de polidez levantadas e que não podem mais ser derrubadas.
A única relação verdadeira que conseguira estabelecer foi com seu criado Guérassim, pois esse não escondia a piedade que sentia pelo moribundo destituído do título de juiz, para ele havia apenas um ser humano mortal que precisava de cuidados e isso conquistou a simpatia de Ivan Ilitch que pode sentir um pouco de autopiedade.
A sensação de que desperdiçara sua vida, não amenizou sua dor física, pelo contrário provocou outro tipo de dor, a dor moral, sentia-se um fracassado diante de sua incapacidade de demonstrar fraqueza e de não poder mais mudar sua história.

Notas de Subsolo

Notas de Subsolo é um livro ácido, porém de um sarcasmo ávido, na primeira parte relata a crise existencial de um funcionário público aposentado aos quarenta anos, que julga já estar no final da vida. Faz questionamentos existenciais sobre o ser e o nada,questionamentos sobre o dever moral, sobre a consciência de si e a inteligência ser um mau. Utiliza-se do sarcasmo e ironia o que o assemelha com Sartre na obra a Náusea. Faz alusão a Kant. Fala sobre a banalidade do mau como instinto natural ou leis da natureza e da culpa que a consciência (razão)traz consigo diante dessa lei natural. Questiona nossa aceitação e resignação diante de verdades prontas.
Na segunda parte ele demonstra espanto diante dos defeitos alheios, o que para os outros parece natural. Muito semelhantes com “o paquidermicamente prostrado ali” Sartreano.
Julga-se um covarde e um escravo por pensar criticamente e se diferenciar dos outros, os outros a quem ele denomina rebanho de carneiros com alusão ao comportamentalismo.
Em suas Notas de Subsolo confessa ter se apaixonado por Lisa, uma prostituta, e isso causa repulsa e remorso por julgá-la e expulsá-la de sua vida. Diante de sua própria miséria moral e material se vê impossibilitado de abrir seu coração. Tenta corrigir seu erro, vai atrás dela. É tarde, ela se foi e nunca mais voltou.
Ele continuou seus dilemas morais e ficou com suas lembranças da “verdadeira vida”, a vida fora dos livros, de personagens criados, idealizados. Considera a maioria natimortos que sem livros não sabem o que amar, o que odiar, o que julgar. Em suma julga a falta de autonomia da maioria das pessoas.
Analisando os pensamentos e questionamentos da obra de Dostoiévski, parece muito mais uma obra filosófica do que literária. Um literato com tamanha intensidade que questiona a existência e o conformismo das pessoas diante de ideias impostas. Há vários questionamentos filosóficos referentes a moralidade, leis da natureza e o existencialismo.Um livro que leva a reflexão e e autoanálise.