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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Para onde vão as pessoas quando morrem?

Ontem fiquei sabendo da morte de um colega da filosofia, muito querido por todos.
Desde 2012, encontrávamos em duas ou três aulas, ou seja, um contato de três vezes por semana. Sabe aquele cara centrado, disciplinado e inteligente.O cara era engenheiro e cursava filosofia por amor ao conhecimento, era um entusiasta nas aulas. Os professores o adoravam. Eu ficava embasbacada quando ele dizia que acordava as 05h30min da manhã para ler os livros indicados pelos professores, depois cumpria sua jornada de trabalho, no final da tarde corria dentro da Unisinos e tranquilamente ia para aula, participava dos debates, pois havia feito a leitura dos textos indicados e não havia nele qualquer sinal de cansaço e pasmem , nos finais de semana participava de maratonas de até 40km. Motivava a todos para participarem das corridas.Nas férias ele aproveitava para iniciar as leituras do semestre seguinte. Eu ficava cansada só de pensar em acordar antes das 07h00 da manhã, cinco minutos de sono é algo que não abro mão, ou seja, eu estava sempre correndo atrás da máquina para fazer todas as leituras e dar conta da faculdade e trabalho e de vez em quando fazer um treininho na academia, se sobrasse tempo, algo que administro muito mau.
Num desses semestres que estudamos juntos , eu estava a beira de um surto psicótico e ele na sua sabedoria percebeu e me perguntou o que estava ocorrendo, eu disse que não estava dando conta de tanta leitura, que meu trabalho estava me exigindo bastante e ele tranquilamente me aconselhou: -“Desacelera, leva a vida mais de boa, não precisa ler o livro inteiro, leia apenas o que vai ser debatido em aula e quando sobrar tempo você lê o restante com calma. Não se cobre tanto.” Fiquei pensando : Nossa! Como ele consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo e manter esta serenidade? Sabedoria que só vem com a maturidade. Ele deveria ter uns 50 anos de idade no máximo. Eu chegava em casa e comentava com o meu marido sobre ele e de como eu gostaria de ser assim, tão disciplinada. Era uma disciplina sem dor, sem cobrança, automática.
No semestre seguinte ao conselho resolvi testar seus ensinamentos e por incrível que pareça, aumentei o numero de disciplinas e meu aproveitamento foi muito maior, apenas desacelerando e me cobrando menos.
No primeiro dia de aula desse semestre , ele não estava, estranhei porque nunca faltava a aula. O professor comentou algo , que ele havia mandado uma mensagem dizendo que estava com um problema no joelho mas que já havia lido cem páginas da leitura indicada para o seminário de Hegel, mesmo hospitalizado.
Sexta-feira a noite havia uns recados no facebook para ele ter força, que logo iria correr mais maratonas. Pensei em ligar me solidarizando e decidi: Segunda-feira eu ligo.
Ontem , segunda-feira, na hora do almoço fiquei sabendo através de um colega sobre seu falecimento, estava almoçando, não consegui mais comer.O estômago embrulhou.
Como assim? Alguém com tanta disposição, um atleta, morrer. Um colega falou que foi câncer de pulmão. Ele não fumava, tinha uma alimentação saudável. Sei lá, vai entender.
Enfim, como já falei em textos anteriores a morte não costuma agendar. Não espere o outro dia para ligar para alguém. Ela é indiferente a todo o nosso cronograma. Não importa quantos livros ainda tenhamos para ler, quantas maratonas nós pretendamos correr, quantos objetivos tenhamos para alcançar. Do colega fica apenas bons exemplos, boas recordações de um sorriso tímido e de um olhar compreensivo, de uma palavra certa.
Para onde vão as pessoas quando morrem?
Espero que ele esteja num lugar bonito e que tenha alguns filósofos para trocar ideias.

3 comentários:

  1. "A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais."

    EPICURO

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  2. Prefiro acreditar no pensamento Platônico, na imortalidade da alma, que nunca deixamos de existir...

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  3. Gazzana,
    Fiquei tão chateada que resolvi escrever aquilo que estava sentindo, que bom que pude expressar um pouco disso. Do querido Danilo fica a saudade e uma lembrança boa.

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Sentimentos sao para serem expostos