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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Experiência e o saber da experiência

Não costumo postar textos que não sejam de minha autoria , mas o texto do autor Jorge Larrosa aborda o contexto da nossa era da informação, por isso fiz uma síntese e espero ter sido fiel a ideia do mesmo.
O autor faz uma abordagem diferente do senso comum ou do que aprendemos como experiência. O senso comum tem como base para experiência aquilo que foi vivido, indiferente do que foi pensado e extraído dessa vivência, ou experimentos científicos, dados empíricos, puramente objetivos. Ele aborda que o excesso de informação e agilidade que tudo acontece hoje,nos impede de vivermos experiências reais, que seria a auto reflexão, a introspecção, aquilo que constrói a nossa subjetividade.Com o excesso de objetividade do mundo moderno, onde o conhecimento técnico é algo utilitarista para e puramente troca monetária, seria paradoxal a construção de uma subjetividade. O objetivo é termos conhecimento, no sentido de informação e opinarmos sobre isso, sem que isso nos provoque uma catarse. É algo imediato, momentâneo e logo passamos para próxima informação, para a próxima opinião sem que isso nos tenha causado nada de experiência. São sentimentos efêmeros e volúveis.
Larrosa enfatiza o poder das palavras nesse processo transformador: “Eu creio no poder das palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e também que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nossos pensamentos porque não pensamos com pensamentos, não pensamos de acordo com uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. Pensar é dar sentido ao que somos e ao que nos acontece”. Ele afirma que as palavras com que nomeamos o que somos, o que fazemos, o que percebemos e o que sentimos são mais que palavras. Por isso é necessário o controle, saber o significado e silenciar certas palavras.
Ele busca a etimologia da palavra experiência que significa em várias línguas “o que nos passa” e o que nos passa requer percepção, requer silêncio e não opinião. A falta de memória e silêncio são inimigos mortais da experiência. Ao sujeito da era da informação, do estimulo, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca mas nada lhe acontece. O objetivo é ser informante e informado e essa obsessão pelo saber, não traz sabedoria.
O excesso de trabalho também impede a experiência. Não raro, confundimos trabalhar com adquirir experiência. O sujeito moderno além de ser o sujeito informado que opina, e vive em constante movimento, é um ser que trabalha que condiciona o mundo a sua vontade. Esta sempre desejando produzir algo, regular algo. Não podemos parar e por não podermos parar não nos acontece nada, nada nos passa.
Para o autor a experiência requer que algo nos aconteça ou nos toque e isso requer parar: parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, escutar mais devagar; parar para sentir, se ater mais nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, aprender a escutar os outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.
O sujeito da experiência tem paixão, ele sente, sofre, padece e se transforma. Ele é passivo, receptivo, mas não quer dizer que não aja ,um agir calmo e coerente, com sabedoria.
A experiência é uma abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem “pré-ver”, nem “pré-dizer”.
O que posso concluir é que autor relata exatamente o que vejo nas páginas sociais, um tribunal popular onde todos julgam, acusam ou defendem baseados na informação sem qualquer comprometimento se aquilo é verdadeiro ou falso. E puxando a brasa para o meu assado, a filosofia tem exatamente este objetivo, amor à sabedoria, a reflexão, a introspecção, questionar “verdades” prontas. Através do poder das palavras e sua força transformadora ela tem como objetivo incentivar as pessoas a pensarem por si mesmas, por isso, possui mais perguntas do que respostas.
Deixando a opinião de lado, o texto serve para longa reflexão: Será que estamos tendo experiências?


Fonte :
Artigo: Notas sobre a experiência e o saber de
Experiência
Jorge Larrosa Bondía
Universidade de Barcelona, Espanha
Tradução de João Wanderley Geraldi
Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Lingüística

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